quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

DISCERNIMENTO VOCACIONAL


  1. O que são os Encontros Vocacionais ou ROV (Retiro de Opção de Vida)?
Os retiros ou encontros vocacionais são momentos que têm por finalidade intensificar a oração e proporcionar um ambiente de escuta a Deus e a si mesmo. Geralmente organizado pelas ordens religiosas, congregações, comunidades ou pastorais vocacionais. Antes de se buscar uma resposta, o objetivo deve ser o de ouvir a Deus e estar em sua intimidade através do contato vital com Jesus Vivo na oração, formações e informações que permitem ao jovem cristão maiores esclarecimentos acerca de suas inclinações interiores e mesmo suas inquietações no que diz respeito ao chamado de Deus para sua vida, além de enriquecer-se com partilhas e experiências de vida de muitos outros irmãos que miram o alvo de sua verdadeira felicidade.
           
Muitos jovens iniciam os encontros “armados”, já trazendo em mente o que querem e para isso buscam confirmação, outros vêm sem compromisso sério, já outros, como é mais comum, nos chegam cheios de conflitos, dúvidas, medos e angústias, mas o mais interessante e recomendável é que, estando a pessoa sempre em oração, se abra à ação do Espírito Santo (cf. Rm 8,26s) e se torne cada vez mais dócil e flexível à vontade de Deus, pois no decorrer da caminhada nos deparamos com as reais dificuldades, com os desafios e consequências de nossas decisões, e tudo isso compreende um papel importantíssimo, embora muitos parem pelo caminho ou voltem atrás. Não é nada fácil ouvir a Deus num tempo em que somos assaltados por distrações e fantasias, onde tudo se racionaliza, cientificisa, relativiza, fragmentaliza ou se desfaz (cf. Rm 8,18), mas temos diante de nós o mesmo Deus de sempre que continua chamando e questionando também nos dias de hoje. Tentaremos mostrar como melhor definir esse chamado, como se desenvolve e se “finaliza”.
A Pastoral Vocacional não se trata de uma pescaria, diante da escassez de vocações nos seminários e casas religiosas, mas de um auxílio no direcionamento espiritual que permita ensinar ao vocacionado buscar com segurança sua felicidade em Deus, seja lá qual for seu chamado.

           
  1. O que é a vocação

A palavra vocação nos chegou da língua latina: “vocare”, que indica voz, chamado. Esta palavra é empregada nos dias de hoje também para indicar aptidão à determinada inclinação profissional ou artística, mas no sentido religioso, que mais nos interessa aqui, ela expressa seu sentido original, ou seja, o chamado específico de Deus para tal configuração e missão de uma pessoa ao plano divino (cf. Rm 8,28-30; Ef 1,3-14), por isso mesmo toda vocação gira em torno de uma determinada missão (cf. Is 61), mas antes disso, é uma questão de identidade (cf. Gn 12,2; 17,5; Rm 6,5). Somos chamados a ser, logo depois a executar algo com, por e em Cristo. É importante frisar essa distinção, pois algumas pessoas hoje em dia têm confundido e reduzido vocação à simples execução de determinado carisma ou apostolado, fitando o olhar apenas no “para que” Deus chama o homem. Se a vocação se resumir apenas em execução de uma atividade humana ou espiritual não haverá consagração de si, logo, não existirá.

A missão da Igreja é mostrar ao mundo a face de Jesus, ela ora, educa, prega, celebra, catequiza, trabalha, enfim, mas sabemos que a opção por Jesus e pelo Evangelho se concretiza quando decidimos abraçar um estilo de vida, podendo ser: vida matrimonial, vida leiga, vida sacerdotal, vida religiosa, ou vida missionária. Sabemos que todas estas trazem em si um pouco de uma outra, mas tudo parte da graça do batismo, é no batismo que ressurgimos para Deus, somos a Ele consagrados e nos tornamos missão; toda vocação é um aprofundamento ou radicalização dessa vocação batismal. O que diferencia uma vocação de outra é o estilo de se viver tal consagração a Deus. A palavra consagração significa que a pessoa não se pertence mais, ela se tornará “sagrada”, que no sentido bíblico quer dizer “santa”, “separada”. Já fomos consagrados a Deus por Ele mesmo e uma vez por todas através do batismo, a consagração feita em qualquer outro modo de vida significa uma disposição da liberdade em concretizar e vivenciar o batismo de forma mais radical, seja na vida matrimonial, missionária, religiosa, seja na vocação leiga ou no presbiterato (ordenado).


  1. O que acontece em cada vocação

- Matrimônio: é o chamado de Deus onde ocorre a união legal e espiritual do homem e da mulher a fim de constituírem uma só carne (cf. Gn 2,24; Mt 19,1-9; Ef 5,21-33; 1Cor 6,16). É uma doação total de si ao outro como oferta de amor e completude. É o chamado a constituir família, santuário da vida, Igreja doméstica e berço de tantas outras vocações. A própria relação de Deus com o ser humano é comparada com uma linguagem matrimonial: a Aliança (Cf. Ex 19), da mesma forma, a relação de Cristo com sua Igreja (Cf. Ef 5,32);

- Leigo: vem do grego ‘laikos’, que quer dizer, povo. Todo batizado constitui o povo de Deus, mas aqui, especificamente se refere aos cristãos engajados na comunidade e que tem por principal missão instaurar o Reino de Deus aqui mesmo na terra, seja no serviço pastoral, no trabalho, no estudo, na política ou na sociedade em geral.

- Sacerdócio: o termo mais apropriado e bíblico é “presbítero” que quer dizer, “colaborador”, já que a Carta aos Hebreus insiste em dizer que só existe um único Sumo e Eterno Sacerdote, Cristo Jesus, mas como é tradição, utilizamos esse termo. É um chamado a pastorear o rebanho de Deus, a ser mediador (intercessor) entre Deus e a humanidade através do sacrifício oferecido e do seu próprio ser. O padre é um representante legal de Jesus, um “vicarius” (substituto).

- Vida Religiosa: uma entrega total e incondicional a Jesus de si mesmo (cf. Dt 6,4; 1Ts 5,23) concretizada em alguma comunidade que abrace um mesmo ideal (carisma), podendo ser através da vida monástica (mosteiros), das Ordens ou Institutos de Vida Consagrada reconhecidos e devidamente aprovados pela autoridade eclesiástica. Algumas comunidades de cunho contemplativo, outras de vida apostólica (missionária) ou mesmo os dois, como no nosso caso (Instituto Nova Jerusalém).

- Vida Missionária: todo batizado é, por natureza, missionário. Não se trata de opção (Cf. Mt 10). “Missio” quer dizer envio, somos encarregados de um mandado divino, que é proclamar o Evangelho de Jesus, anunciar seu Reino, enfim, ser presença de Deus na terra.


  1. As três dimensões da vocação

             Toda vocação tem suas três dimensões: espiritual, humana e eclesial. A vocação tem sua dimensão espiritual porque é, antes de tudo, ação divina. Não é o homem que desperta e busca Deus por si mesmo, é antes Deus quem toma a iniciativa, o convoca e atrai (cf. Is 49,1; Jr 1,5; 20,7; Jo 15,16), ninguém pode ir até Jesus se Deus não o atrair, ou seja, a vocação é um dom gratuito da bondade de Deus que se descobre e se consome na intimidade ou permanência com Ele (cf. Jo 15,4s). A Sagrada Escritura deixa aqui transparecer uma determinada “predestinação” do homem: “Em Jesus, Deus nos escolheu antes da fundação do mundo” (cf. Ef 1,4). A vocação também tem sua dimensão humana porque só o homem pode responder a Deus; o ser humano é capaz de perceber, relacionar-se e realizar-se em seu Criador. Como se pode ver nas Sagradas Escrituras e na vida dos santos de ontem e hoje, Deus não costuma chamar os melhores, mas quem Ele quer (cf. 1Cor 1,26-31), escolhe porque ama e porque nos conhece melhor que a nós mesmos (cf. Sl 138 (139); Jo 13,18). Por fim, ela tem sua dimensão eclesial porque se realiza na Igreja para o mundo, pois nossa missão só se tornará possível por meio dela, como membros de Cristo, formando um só corpo (cf. 1Cor 12,12-30) e nos tornando comunhão e missão, não vivendo por si e para si mesmo, mas para Deus e para o outro. Somente como Igreja nossa missão se tornará universal.
           

  1. Quais são os “modos vocacionais” mais comuns?

Podemos apontar três formas básicas de como esse chamado é despertado na pessoa e que podem ser fortes indicadores vocacionais, se discernidos:

a)      Através do sentimento. Deus como ser relacional, se comunica de forma especial no coração humano que crê (cf. Sl 94(95),7s; Os 2,16). Aqui o chamado ocorre através de fenômeno sensível, da fantasia e mais comumente dos insights (ideias internas adormecidas) e que posteriormente são “acordadas” diante de determinadas situações do cotidiano. É a forma mais simples e natural da manifestação de Deus em nossa vida. É preciso manter-se atento e contemplativo para perceber a ação de Deus nas pequenas coisas, através de situações concretas, da liturgia, das pessoas, da própria criação que o comunica. Quanto a visões, êxtases, arroubos e locuções interiores, são dons concedidos por Deus a quem Ele quer, como e quando quer; não podemos, portanto, estar dependendo ou esperando tais sinais se Deus está presente no nosso dia-a-dia, sobretudo de forma especial na sua Palavra, nos Sacramentos, tão real no Pão Eucarístico e na sua Igreja, como aponta o Catecismo.

b)     Intuição/ dedução racional. A razão é, sem dúvidas, um dom específico do ser humano diante de toda natureza física e que o faz ir além disso. A espécie humana é definida como “homo sapiens”, termo originalmente filosófico que exalta o papel da razão. A razão permite conhecermos a nós mesmos, melhorar nossa vida e ambiente, a se relacionar e se desenvolver de forma mais plena com a própria existência. O vocacionado pode e deve ter consciência que é chamado, pois este Deus se revela e se faz compreensível à nossa razão também sem necessidade de imagens sensíveis como vimos acima; o ser humano tem consciência do Absoluto e o conhecimento de sua vocação ocorre após uma real experiência de Deus e de seu amor. De qualquer modo a pessoa pode até não ter a capacidade senti-lo como gostaria, mas isso não indica falta de vocação, pois a pessoa se vê afetada, ao ponto de questionar, sentir medo, procurar ajuda, partilhar... Quando a experiência de fé não é refletida e levada apenas pela emoção com seus sentimentos, é quase certeza se resumir em fanatismo religioso. Aqui somos chamados a construir nossa vocação com bases sólidas, permanecer firmes em nossas convicções e querer estar na intimidade de Deus mesmo sem “revelações”.

c)      Através do próprio contexto que a pessoa vive. Somos também seres históricos, inseridos no mundo e numa realidade específica de nosso tempo. Deus suscita profetas, pastores, missionários, evangelistas e doutores de acordo e para a necessidade de cada tempo (cf. 1Cor 12,28). Aqui Deus encontra a pessoa “vagando” (cf. Jo 1,47) ou com a “mão na massa” (cf. Mt 4,18-22), retira do meio do povo e prepara para esse povo. Diante de sua realidade o vocacionado é impactado pela necessidade e pela sua própria inquietação. A pessoa já pode estar inserida em seu campo de trabalho, mas sente uma necessidade de radicalizar e oficializar sua pertença a Deus. Os personagens bíblicos históricos tiveram de agir muitas vezes para salvar seu povo, era uma questão de vida ou morte, como o caso de Abraão, que foi convidado a partir para uma terra estrangeira, como Moisés no Egito, ao escapar da opressão do Faraó com o povo, ou mesmo com José e Maria em sua fuga para o Egito tendo em vista a garantia da salvação do gênero humano que estava com eles: o Menino Jesus.


  1. A “psicologia” do vocacionado

Como falamos anteriormente, Deus chama quem quer (cf. Mc 3,13), isto significa que a primeira condição do chamado é que a pessoa seja... Humana! “A graça supõe a natureza” (Sto. Tomás de Aquino). A idade contemporânea não concebe apenas conceitos sobrenaturais e espirituais, mas requer fundamentações claras e válidas sobre a psique humana. A pessoa chamada não é algum “supercristão” com virtudes estratosféricas, bem pelo contrário, trata-se de uma pessoa como outra qualquer, com seus defeitos e virtudes, fraquezas e desejos e que se depara diante do Absoluto, de um valor maior, que será algo mais profundo e abrangente. O vocacionado, mesmo que inconscientemente, faz a psicologia do profundo, sua vocação pode até ser vista e analisada a partir da psicodinâmica (conjunto de forças motivacionais), do Eu ideal, da logoterapia, da psicoterapia, mas nunca esta graça pode ser reduzida a psicologismos, pois antes se trata de uma real experiência da fé, e sem esta fé será impossível agradar a Deus (cf. Hb 11,6). A psicologia mesmo tem sido uma forte aliada na formação e acompanhamento de nossos leigos, seminaristas, religiosos e padres, tornando-nos pessoas mais humanas, felizes e em harmonia consigo mesmo, com os outros e logo, com Deus.

Um detalhe nisso tudo é indiscutível: Deus não chamou apenas no Antigo e no Novo Testamento, Ele continua chamando (cf. Hb 1,1-4). Essa vocação implica necessariamente, como vimos, uma nova existência onde o empenho religioso será a motivação dominante que deve levar este vocacionado à autotranscendência em tempo integral (na consistência), isto é, se a pessoa não buscar viver uma vocação como fuga de conflitos internos ou gratificação de suas necessidades pessoais, pois a vivência e eficácia do chamado exige renúncia de si mesmo e de nossas “riquezas” (cf. Mc 8,34; Mt 19,16-22).


“A entrega livre e total de um jovem a Deus tem um poder enorme de contribuição para a paz e harmonia da humanidade.”

Ir. Pe. Caetano M. de Tillesse, NJ


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2004;
BRANDÃO, Marilene: Psicologia e Formação religiosa. São Paulo: Edições Paulinas, 1985;
RULLA, M. Psicologia do Profundo e Vocação. São Paulo: Edições Paulinas, 1977;
MATTHEWS, Eric. Mente: conceitos-chave em filosofia; tradução Michelle Tse. – Porto Alegre: Artmed, 2007



JOVEM: se você se vê inquieto, impotente e mesmo incapaz, mas tem uma fé forte e generosa, procure orientação vocacional em alguma comunidade ou pastoral vocacional.
Não tenha medo de Deus, Ele chama e capacita, lhe confia uma linda missão e seu desejo mais profundo é lhe conduzir à felicidade suprema que consiste numa união íntima e amorosa com Ele. Se abra à graça de Deus; as pessoas costumam se queixar de sua falta de tentativa e não do uso do discernimento.
Não esqueça que uma multidão de jovens, adultos e crianças esperam ansiosamente pela sua doação!




Ir. Narcélio Ferreira de Lima, NJ
Promotor Vocacional do ramo masculino
Contato: (85) 3228.1121
Ir. Nivaneide de Abreu Lima, NJ
Promotora Vocacional do ramo feminino
Contato: (85) 3282.7020

INSTITUTO RELIGIOSO NOVA JERUSALÉM
Rua Francisco Calaça, nº 178 – Bairro Cristo Redentor – Fortaleza/ CE
Blog: www.vocacionalnj.blogspot.com
Site: www.irnovajerusalem.com.br



2 comentários:

Beatriz disse...

Obrigada pelas informaçoes, quero muito descobrir qual a missão que Deus preparou pra mim.. Que a vontade de Deus seja feita!!

Vocacional NJ disse...

Que o Senhor continue te abençoando, que o Espírito Santo te conduza sempre até Jesus e que Maria seja tua Mestra!

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