Passaporte de Padre Caetano. Arlon, Bélgica, 20/11/1967 |
Tudo começou a partir de uma conferência na Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma), ministrada pelo então abade geral da Ordem Cisterciense, Dom Marie-Gabriel Sortais (1902-1963), com o tema Fonction des Ordres contemplatifs en pays de missions (A função das ordens contemplativas no país de missões [referindo-se à França]), realizada de 14 a 17 de outubro de 1953 em virtude do IV centenário desta Universidade. Na época, nosso querido Monge, recém ordenado padre, estava na Cidade Eterna cursando licenciatura em teologia. Mas a decisão de partir para o Brasil se deu em agosto de 1967, após um retiro pessoal de 30 dias em Paris com o padre jesuíta Jean Laplace, consulta aos maiores teólogos conhecidos e intensos diálogos e orações com os monges de Orval (Bélgica). Dom Raphaël Boulet, então abade de seu mosteiro, concede a permissão para um intensivo de português aos padres Georges (Caetano) e Norbert Gorrisen no período de setembro a 22 de dezembro daquele ano, precisamente no então recém fundado Colégio para a América Latina (COPAL), um departamento da Universidade Católica de Louvain (Bélgica). O novo abade de Orval, Dom François-Xavier Hanin, o mesmo que fora seu mestre no noviciado, solicita autorização ao abade geral dos Cistercienses, Dom Ignace Gillet, para sua ausência do mosteiro, o que chamamos de "exclaustração", isto é, saída da clausura.
Colégio para a América Latina (COPAL), Louvain - Bélgica |
Enquanto isso no Brasil, o Arcebispo de Salvador, Dom Eugênio de Araújo Sales (1920-2012), envia o Padre (mais tarde bispo) Josef Romer à Louvain em busca de um professor de Bíblia para a Universidade Católica de Salvador/ BA. Assim, em 1967 na Bélgica, encontra-se com Padre Georges e fica interessado em seu projeto. Dom Eugênio insiste e acelera sua vinda ao Brasil, ao mesmo tempo que o então bispo auxiliar de Fortaleza, Dom Gérard de Milleville (1912-2007), que havia recebido o contato de Padre Georges durante uma visita do Padre Espinay à Fortaleza, também o contata, o que segundo o Padre Georges veio a ser um "sinal do Senhor". Assim, nosso Arcebispo na época, Dom José de Medeiros Delgado (1905-1988) o solicita para abertura de uma casa de acolhimento para nosso clero na Reitoria São Judas Tadeu (Bairro São Gerardo). Após todos os exames médicos e vistoria burocrática, é tarde demais para voltar atrás. Segue seu destino na fé o nosso Príncipe Encantado, trazendo na bagagem mais que um poço de sabedoria, a saudade e uma longa história que marcará decisivamente a vida de uma geração.
Foto da carteira de identidade belga, 1956 |
Deixa Orval no dia 14 de março de 1968 com Padre Norbert e se dirige ao porto de Le Havre (França). Deixou a Europa dois dias depois às 20h (para nós 15h) no Navio Pasteur, pertencente à Companhia dos Mensageiros Marítimos (MM). Ali estava, em silêncio e oração, com o coração cheio de expectativas e uma veia missionária, precisamente na cabine 251 da classe turística, ancoradouro V. A embarcação havia partido da cidade de Hambourg (Alemanha) com destino a Buenos Aires, fazendo escala pelo Rio de Janeiro. Assim, nosso querido Padre passa 12 dias em alto mar em profunda contemplação, talvez a mais forte de sua vida, chegando a pisar a Terra de Santa Cruz no dia 28 de março às 7h da manhã.
Num cálculo aproximativo, ele percorreu mais ou menos 12.343,99 km para encontrar aquilo que procurava, um trabalho com os pobres da beira da praia, as AREIAS DO PIRAMBU... Em 20/11/1968 opta definitivamente por Fortaleza, chegando aqui em 22/11 do referido ano e se instalando numa casinha da Comunidade de Arpoadores em 08/12, aonde brotou uma "Nova Jerusalém" e permanecendo aqui até sua páscoa em 01/01/2010. Em julho de 1969, Pe. Norbert, seu companheiro de missão, decide retornar à Bélgica, deixando Pe. Caetano sozinho na jovem Paróquia do Cristo Redentor.
No dia 29 de janeiro de 1969, o mesmo navio que trouxe nosso Padre à América Latina passa por um incêndio em Buenos Aires.
No dia 29 de janeiro de 1969, o mesmo navio que trouxe nosso Padre à América Latina passa por um incêndio em Buenos Aires.
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Ir. Narcélio Ferreira de Lima, INJ
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