quarta-feira, 20 de julho de 2011

Adolescência e redes sociais

por: Ir. Jackson Câmara Silva*


1.        Breve histórico das redes sociais:

            A primeira rede social virtual surgiu em 1997 com o lançamento do Sixdegrees. Este site foi o primeiro a possibilitar a criação de um perfil virtual combinado com o registro e publicação de contatos, o que viabilizou a navegação pelas redes sociais alheias. Três anos depois, por não conseguir sustentação financeira, a Sixdegrees acabou.
Embora a partir de 2000 tenham surgido vários serviços de redes sociais, como Live Journal, Asianevenue, Blackplanet, LuinarStorm, Migente, Cyworld, Ryze e Fotolog, aquele que mais se assemelhava as redes sociais como as conhecemos hoje foi o Friendster. Essa rede não suportou o estrondoso crescimento e acabou frustando seus usuários na medida em que limitou as funcionalidades do serviço em função do seu submencionamento diante da crescente demanda.
Hoje dos cerca de 1,6 bilhão de usuários da internet, 80% ou seja 1,28 bilhão já usam redes sociais. Dentre elas destacamos: Facebook (1,19 bilhão), myspace (810 milhoões), twitter (54,2 milhões), hi5 (9,4 milhões), friendster (7,2 milhões), orkut (5 milhões). No Brasil, o Orkut ainda lidera o ranking de 71,2%, seguido do Sonico (6,8%), Myspace (4,4%). O Facebook está em 5º com 3,6% dos usuários, enquanto o Twitter com 2,7%.
Este ano, foi lançada a TwigUP, uma rede social brasileira desenvolvida em Santa Catarina por Denise Becker que tem o objetivo de mostrar como as pessoas se relacionam. Segundo ela, a intenção é que as pessoas saibam como foram apresentadas umas às outras. Ela ainda avalia que “não temos círculos de amizades, mas pirâmides sociais ou árvores e, neste conceito, as ligações entre as pessoas podem ser classificadas por ordem de contato”. Daí a ideia do nome Twig para esta rede social, que significa “galho ou ramo”.

2.        Influência das redes sociais na adolescência
            As redes sociais vêm intrigando sociólogos, antropólogos, psicólogos e cientistas das mais diversas áreas do conhecimento humano. O importante que elas vêm preocupando pais, educadores e profissionais que lidam com crianças e adolescentes, pois todos procuram saber para onde caminha este fenômeno e como lidar com ele.
O Conselho de Comunicação e Mídia da Academia Americana de Pediatria, publicou no seu site um trabalho sobre o impacto das mídias sociais nas crianças, adolescentes e suas famílias (Gweenn S. O’Keeffe, MD; Katleen Clarke Peterson, MD). Além disto, foi feita uma pesquisa pelo Ibope Nielsen revelando o comportamento das crianças brasileiras frente à internet. Assim, em dezembro de 2010, cerca de 14% dos usuários da internet no Brasil, eram de crianças (entre 2 e 11 anos), contra 6% em 2000. Isto acontece porque os acessos estão cada vez mais fáceis. Quase todos podem ter celulares com acesso a WEB, os computadores estão cada vez mais presentes nos lares e as crianças estão cada vez mais interessadas em usá-los.


Por outro lado, nos EUA, os números de crianças e adolescentes usando as mídias sociais também vem aumentando de forma exponencial e seu acesso, agora facilitado pelos telefones celulares, vai fazer estes números cada vez maiores. Cerca de ¼ dos adolescentes entram na internet mais de 10 vezes por dia, e pelo menos 1 vez nas redes sociais, seja pelo computador seja pelo telefone celular, que eles usam muito mais como emissor de textos e imagens do que como comunicação oral. Num estudo realizado por pesquisadores da Case Western Reserve University baseiou-se em perguntas feitas a 4 mil estudantes de 20 escolas urbanas em Ohio. Cerca de 20% dos jovens enviam pelo menos 120 mensagens de texto por dia, 10% estão em sites de redes sociais por três horas ou mais, e 4% fazem ambas as coisas. Esses 4% tiveram risco duas vezes maior que os alunos que não enviam mensagens nem ficam em redes sociais de se envolver em brigas, fumar, beber demais, ser vítima de cyberbullying, cogitar suicídio, faltar à escola e dormir na aula.

Outro estudo feito pela Media Awareness Network com 5000 jovens estudantes canadenses descobriu que num dia de semana normal, eles passam – muitas vezes de forma simultânea – 54 minutos enviando mensagens; 50 minutos baixando conteúdos e escutando música; 44 minutos jogando jogos on-line e só 30 minutos fazendo as tarefas do colégio.
No estudo intitulado “Teens and Online Stranger Contact” de Aaron Smith, apresenta 32% dos adolescentes on-line que tem sido contactado por alguém sem conexão com eles ou qualquer um de seus amigos, e 7% deles dizem que sentiram medo ou desconforto quando se contactaram com um desconhecido on-line. A pesquisa também revelou que as meninas são mais propensas a relatar esse comportamento que os meninos.
Claro que é muito precipitado afirmar que a as mídias sociais são causadoras desses distúrbios nos adolescentes. Nem os próprios pesquisadores afirmaram isso. Segundo a psicóloga brasileira Luciana Nunes é preciso analisar outros fatores, como situação socioeconômica desfavorecida, falta de autoestima e abandono educacional, para descobrir se esses jovens compensam um desgaste emocional fazendo uso compulsivo das redes e outras ferramentas de comunicação. Talvez isso é que poderiam ser fatores que levassem os adolescentes a procurarem insistentemente as mídias sociais.

3.        Benefícios das redes sociais:



            Não podemos “demonizar” a influência das mídias sociais sem levar em conta também uma série de benefícios que elas proporcionam na vida de seus usuários. Gwenn O’Keeffe, CEO e editora-chefe da revista “Pediatrics Now” e autora de um relatório sobre o impacto das mídias sociais lançado recentemente pela Academia Americana de Pediatria, aponta que estas mídias estimulam os jovens a se conectar entre si e a expressar sua criatividade, através dos blogs, por exemplo. Além disso, outros aspectos positivos devem ser levados em conta:
1. Melhoria e aprendizado de viver e se comunicar com uma comunidade, podendo ser usado para ajudar pessoas como angariar fundos para projetos sociais, formaturas etc.
2. Trocar idéias, imagens, trabalhos criativos como em artes, fotos, filmes, músicas.
3. Empreendorismos, como na criação de blogs, sites de vídeos, games etc.
4. Trocas de experiências e idéias compartilhando causas (importante para os adolescentes), dando oportunidades de conviver com idéias diferentes e o aprendizado do respeito, tolerância.
5. Acessos às informações, como de saúde, para uso na escola, como fonte de aprendizado, etc.

4.        Malefícios ou riscos das redes sociais:



            Sabemos que é impossível bloquear o uso das mídias sociais aos adolescentes e jovens. E nem devemos, tendo em vista seus benefícios como vimos. Entretanto, o problema está no exagero da permanência dos usuários nessas redes sociais virtuais que podem provocar diretamente efeitos não desejáveis tais como:
1.    Problemas de saúde do tipo ergonômicos e posturais, dores de cabeça frequentes;
2.    Sedentarismo causado pela “troca” da prática de exercícios físicos pelo computador além de mudança de hábitos alimentares;
3.    Alterações no sono e mudança de humor;
4.     Cyberbullying é o fenômeno que mais está crescendo, e acontece quando deliberadamente as pessoas de um grupo começam a hostilizar uma pessoa ou um grupo e pode acabar envolvendo toda uma comunidade virtual. Quando isto acontece, o dano psiquicosocial, é enorme podendo ocasionar ansiedade, depressão, isolamento, podendo levar a um suicídio.
5.    Assédio sexual, ou recebimento de imagens, textos, muitas vezes enviadas dos próprios celulares como imagens de si próprios ou de amigos, nus ou seminus, o que se torna um problema disciplinar nas escolas.
6.    “Depressão do facebook”: é um fenômeno que está sendo cada vez mais visto em jovens nos EUA, onde crianças e adolescentes com propensão ao desenvolvimento de depressão acabam, com o uso das redes sociais, desenvolvendo quadros de depressão e abuso de drogas conseqüentemente. Isto parece ocorrer pelo isolamento social, uma vez que o contato pessoal é muito importante para os adolescentes.
7.    Perda da privacidade: outro aspecto levantado é o da perda de privacidade e da colocação de muitos dados pessoais, como fotos, endereços e rotinas, causando um risco grande de segurança, muitas vezes se coloca opiniões radicais que poderão acarretar um prejuízo no futuro.
8.     Influencia da propaganda e do risco de consumismo: muitos dos sites de relacionamentos e de jogos, que são os mais acessados pelos jovens, estão com propagandas voltadas a este público específico, por esta razão é bom saber o que seu filho está fazendo e entrar nestes sites para ver o que é propagandeado.
  
5.        Como pais e profissionais devem lidar com as redes sociais?

            Sabemos que é impossível pais e educadores bloquearem o uso das mídias sociais de adolescentes e jovens, já que inúmeros são os lugares e os meios pelos quais eles acessam. Também nem devem restringir seu uso, tendo em vista seus benefícios como já vimos.
            Talvez um dos meios mais eficazes dos pais ajudarem adolescentes e jovens a usarem de maneira correta e equilibrada as mídias sociais é o diálogo facilitando assim uma melhor compreensão e consciência dos riscos que elas podem acarretar em sua vida. Para isso, os pais devem cada vez mais, buscarem conhecer as ferramentas da internet para melhor eles mesmos poderem compreender melhor o que está envolvendo a juventude.

Outro fator importantíssimo é propor atividades diferentes do uso do computador aos filhos tais como: prática de esportes, passeio familiar ou escolar, os quais proporcionam uma melhor interação que não seja apenas virtual.
            Entretanto, para famílias cujos os pais são muito ausentes restam apenas os profissionais da medicina (pediatras, neurologistas, etc), psicologia e educação tentarem fazer um trabalho de melhor concientização aos adolescentes e jovens. Nisso a escola também poderia dar sua contribuição ministrando palestras ou realizando trabalhos interdisciplinares que envolvessem o tema.



BIBLIOGRAFIA

SMITH, Aaron – Teens and Online Stranger Contact. Pew internet & American life project. 2007*
Berzosa, Raul – Medios de Comunicación social. Revista Cooperador Paulino. Madrid: San Pablo, 2011
Gwenn Schurgin O'Keeffe, Kathleen Clarke-Pearson – The Impact of Social Media on Children, Adolescents, and Families, and Council on Communications and Media. Vermont-USA: Pediatrics nº127, 2011

sites:


*Religioso do Instituto Religioso Nova Jerusalém; Acadêmico do Curso de Filosofia da UECE

Trabalho apresentado em 19/07/11 na disciplina de Psicologia do desenvolvimento II 

1 comentários:

Anônimo disse...

Super legal, achei tudo o que eu tava procurando.

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